quarta-feira, 26 de julho de 2017

A crise da esquerda

O filósofo esloveno Slavoj Žižek acredita que hoje, mais do que nunca, as principais questões metafísicas são interessantes porque a tecnologia está mudando o que significa ser humano. Deu recentemente duas de palestras em Espanha e falou do que ele chama de "Aireapocalipsis". O conjunto de sinais indicativos de que a humanidade está num ponto em que deve mudar de caminho. "Não digo que as máquinas nos controlem, ainda há muito a percorrer, mas estão mudando o que significa ser humano". Numa entrevista ao jornal El País referiu-se ao que está acontecendo nas clínicas nos subúrbios de Xangai onde os casais ocidentais vão seleccionar os seus embriões geneticamente. "Existe um futuro que me incomoda. Há uma grande sociedade de controle, no qual os cidadãos são constantemente vistos e uma nova divisão de classes ainda mais forte: privilegiada e escrava. O capitalismo, como sabemos, está atingindo os seus limites. Precisamos de grandes estruturas reguladoras para lidar com o aquecimento global, a desertificação, os refugiados, a biogenética e essas estruturas não podem ser os Estados. Temos que pensar numa espécie de órgãos públicos burocráticos constituídos por especialistas em todas essas questões que são de grande importância para o mundo inteiro, mas também membros seleccionados aleatoriamente como nos júris populares. A questão é quem controlaria essas entidades." Perguntaram a Zizek o que pensava sobre os grupos de esquerda europeia como o Podemos. Disse que não sabia, mas acha que nem esses grupos sabem exactamente o que queriam se chegassem ao poder. Enfim! Não os toma sério. De resto, pensa que a esquerda em geral em todo o mundo ainda está em crise profunda. "A única coisa que nos pode salvar é uma nova esquerda. Os protestos que entraram em erupção há dois ou três anos atrás como Occupy Wall Street. Era claro que eram do contra. Mas a favor do que? Uma ideia keynesiana? Uma reforma do capitalismo? Posso fazer perguntas, mostrar o que não funciona hoje, esboçar problemas, mas não tenho respostas concretas".

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